domingo, 15 de fevereiro de 2015

Originalidade


Imagem disponível em: http://www.cariacica.es.gov.br/wp-content/uploads/2015/01/carnaval31.jpg
Erica nunca gostou de Carnaval. Para ela, essa era uma data sem sentido. “Comemorar a alegria deveria ser coisa de todo dia”, costumava versejar. Naquele ano, no entanto, surgiu-lhe à mente uma ideia: “Minha fantasia será diferente da de todos os foliões e sairei no Bloco da Originalidade, serei a mais original da minha cidade!”. O bloco era um dos mais famosos do município, e competia todo ano com o Bloco da Imitação. Era uma brincadeira no Carnaval, que sempre foi animado na cidade de Erica.

O Bloco da Originalidade tinha de tudo, desde heróis dos quadrinhos até personagens da Disney. Todo ano era um desfile de fantasias exuberantes e/ou extravagantes. Mas Erica tinha planejado ter a fantasia mais distinta. E assim foi. Por onde passava na avenida, atraía olhares curiosos.

Os foliões a olhavam, ora maravilhados, ora espantados. Era uma fantasia esquisita, daquelas que no Carnaval ninguém ousaria vestir. Erica, no entanto, estava confortável com sua escolha. E não se importava com os olhares indiscretos em sua direção. “Estão todos surpresos com minha fantasia, eu sei e já sabia que assim seria, mas estou tranquila, feliz em vesti-la”, poetizava enquanto “sambava na cara da sociedade”, como diziam os outros foliões.

No Bloco da Originalidade, todo ano alguém levava um troféu, pela fantasia mais original. E naquele ano, não deu outra: Erica foi a premiada. Ao receber o prêmio, surgiu o questionamento: “Sua fantasia é original, é diferente, é extravagante, mas acreditamos que ninguém saiba ao certo de que você está fantasiada. Poderia nos explicar?”

Erica poetizou pela última vez naquela avenida: “Minha fantasia, meus caros, é original porque é única. Não visto aqui de um herói a túnica. Não visto o tridente de Netuno, tampouco o uniforme de um aluno. O que visto é uma roupa que encontrei em meu armário. Visto um cenário. Se querem mesmo saber, vim assim: fantasiada de mim.”

Guilherme Ferreira Aniceto

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