terça-feira, 19 de maio de 2015

Carta a um homofóbico

O que me deixa triste é o fato de eu ter milhões de defeitos e a única coisa que realmente incomoda aos outros é a minha sexualidade. A única coisa que é só minha, que não diz respeito a ninguém além de mim, é também a mancha que as pessoas enxergam na minha personalidade.

Por que não me culpam por ser antipático? E o que me dizem de ser teimoso demais? E quanto à minha dificuldade em fazer amigos? E os meus momentos (vários) de reclamar da vida? Eu não compreendo, me recuso a tentar compreender que a homossexualidade seja um defeito.

Me recuso a assumir esse papel de vítima conformada e submissa ao padrão normativo, forçada a fingir e sorrir amarelo diante da violência verbal contra mim ou contra quem eu represento. Ainda que haja violência, defenderei meu direito de ser quem eu sou, de amar quem eu amo, de não me deixar vencer. O amor diz respeito a quem ama. O amor não é uma mancha.


A você, homofóbico, deixo um recado: tudo bem, de verdade, você não aceitar, não se sentir confortável. Eu entendo que a sua consciência não esteja preparada, ou que o seu caráter não tenha sido construído com respeito. Você não será obrigado a casar com ninguém do mesmo sexo, nem será convidado ao meu casamento. Fique tranquilo quanto a isso.

Mas conviver comigo talvez seja inevitável. É ruim para mim também ter de conviver com você, ter de ouvir o que você diz. Mas o que se pode fazer? Você, homofóbico, tem as mesmas chances que eu tenho de crescer na vida, na mente e no espírito. Então, vez ou outra, nos encontraremos na estrada. Faz parte.

No entanto, para mim é claro que a sua dificuldade em aceitar as pessoas como elas são é um problema seu. A sua predisposição em enxergar o mundo sob as suas cores somente é um problema seu. O fato de você me ver como um leproso que precisa de cura é um problema seu. Eu não sou o erro nessa história. Mas eu faria tudo que estivesse ao meu alcance para que o seu preconceito fosse desconstruído. Eu até te abraçaria e te diria palavras amenas. Eu até assumiria a responsabilidade pela sua leviandade se isso me desse a certeza de que dali em diante você seria diferente.


Porque eu acredito, com todo o meu coração, que não se pode ser ex-homossexual, ainda que você e (até) eu desejemos. Mas ser ex-homofóbico é perfeitamente possível. E se um dia eu puder fazer isso acontecer, serei a pessoa mais feliz do planeta. E eu tenho certeza de que você também seria mais feliz.

Guilherme Ferreira Aniceto