Pensar em fuga me aterroriza, de tal forma que tudo perde o sentido. Fugir, quando é possível, ou mais cômodo, torna-se igualmente atraente aos olhos. É uma espécie de união do agradável ao útil (nem tão útil quanto seria enfrentar, mas útil ao conforto do silêncio). O silêncio torna-se uma justificativa para a manutenção da paz interior, enquanto ser relacional. No entanto, à noite, com a cabeça no travesseiro, minha mente trava guerras de pensamentos, nas quais o único ferido sou eu. Ferir-se é o preço a pagar pela ocultação da verdade.
Mentiras são consequências. Chances para desmenti-las sempre existem, e aparecem quando menos se espera. Mas a mentira, erroneamente chamada de omissão, está para ímã assim como minha boca e consciência estão para metal. É difícil dizer a verdade quando as contingências impelem para mentiras, cada vez maiores. É como cair num poço, e às vezes se agarrar em fissuras nas paredes. No entanto, como a queda já foi alta o suficiente, não é possível chegar ao topo. Assim, deslizar e cair mais um pouco é a coisa mais fácil do mundo.
É mais fácil manter tudo como está, às escondidas, por medo de não ser aceito ou de ser excluído pelos que mais amo. Mas não é saudável, não é correto e, acima de tudo, machuca de forma irreparável o peito, deixa o coração frágil feito folha seca. Qualquer pisada, fica inteiramente despedaçada. Com isso, chorar toda noite por não conseguir ser plenamente feliz e, o pior de tudo, saber que a culpa é minha, só minha, de tamanha insegurança, é inevitável.
Queria eu, penso com meus botões, ser mais corajoso, autosuficiente, confiante de mim, a tal ponto de ser totalmente verdadeiro comigo mesmo e com o mundo. Minha verdade se limita a quatro paredes, com o amor que eu gostaria que todos vissem... E é também esse o meu limite de coragem.
Guilherme Ferreira Aniceto